quinta-feira, 28 de abril de 2016

Sobre pilantras, perigosos e meias palavras

por Wagner Hilário

— Já dizia um velho ditado de alguma parte perdida do mundo: “Desconfie de um homem sem vícios”.
— E se o cara realmente for cheio de virtudes, qual o problema?
— Desconfie. Melhor um tirano “pré-confesso” do que com discurso democrático, deixando “o rabo da sua verdade” para ser descoberto só quando já for tarde.
— Mas, se o cara for tirano, nem lhe dou crédito.
— Por isso.
— O mentiroso é o problema, então?
— Principalmente, o que mente a si mesmo.
— Como assim?
— O pilantra que sabe que é pilantra esconde mal, porque não tem vergonha de ser pilantra.
— Mas, por aqui, esse é o "favorito", ‘tá com tudo, manda derrubar e dá aumento pra quem não tem mais nem de onde tirar. Esse é o que manda, esse é o perigoso de verdade.
— É não.
— Claro que é.
— Ele tem poder, mas os que mentem a si mesmos têm mais.
— Do que ‘cê ‘tá falando?
— Do sujeito que mente a si mesmo.
— Isso não me diz muita coisa. Quem é esse? Explica.
— Se você me prometer que não vai se identificar com ele, eu conto (rs).
— ‘Tá me estranhando?
— Bom... Perigoso é o sujeito que aparece menos e que usa os pilantras sabidos para fazer o trabalho sujo.
— Você meio que já disse isso. Me explica direito.
— Então, vai... Perigoso mesmo é o cara que dá corda aos pilantras que sabem que são pilantras. É o que diz: “vou usar esse pilantra porque ele tem estômago para fazer o trabalho sujo que precisa ser feito para o ‘nosso bem’”.
— ...
— Perigoso, mesmo, é aquele que, ao público, só mostra o que faz de limpo, mas, no íntimo, vale-se dos pilantras para derrubar outros perigosos, adversários que atrapalham seus planos e que também tentam se esconder atrás de outros pilantras. Perigoso é o que não julga, nem condena o pilantra sabido, porque o pilantra, como disse, é forte e vai lhe garantir aumento gordo, mesmo em tempos de crise. É o que defende, em discurso, as minorias, a maioria carente, a justiça social e, na socapa, embolsa grana pública para enricar a “causa”. Perigoso é quem não faz autocrítica; é o cara que, mesmo depois de tudo isso, ainda é capaz de acreditar, de verdade, que é "gente de bem" e que mereceu tudo o que tem. É desse cara que falo... Se identificou?