segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Pra Iluminar

por Wagner Hilário

Um truco! (...) lento, mesmo que a favor, me angustia.
Prefiro pra ontem, às claras, sem gíria.

A malandragem me deixa truculento, sedento
por preto no branco ou branco no preto...
tanto faz, desde que seja legível.

Pra mim, até fantasia tem de ter carne.
Poesia não precisa ser concreta,
mas tem de dizer a que veio, com engenho
e lirismo, o que é bem diferente de “rodeio”.

Não sei por que diabo essa tara por obscurecer!
As palavras foram feitas pra revelar
não pra esconder.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Tratado geral das grandezas do ínfimo

por Manoel de Barros

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

As sombras dos discursos

por Wagner Hilário

E o preconceito político se dissemina a passos largos. Uns acreditam que sua escolha eleitoral determina sua idoneidade, seu amor pelo próximo e sua humana e amável racionalidade. Será? Sem dúvida é uma maneira polida e educada de dizer que quem vai pelo outro caminho (candidato) não é nada disso, diminuindo e empurrando ao limbo da ignorância reacionária TODOS os que não compartilham do mesmo voto — preconceito com verniz politicamente correto.

— Meu candidato é o da nata intelectual, das almas ateias, mas caridosas. Fodam-se os fundamentos macroeconômicos... Papo de “reaça”.

No fundo, não há nada de revolucionário nem heroico. É egoico mesmo.

— Quem não está com o meu candidato, está contra mim...

No fundo, está com o seu avesso, e o seu avesso é aquilo que teme em si mesmo, sua própria sombra.

O mesmo vale para “os reaças” e “os coxinhas” que fazem jus à fritura que recebem, porque tentam, de forma fascista, varrer para longe, incinerar em pontos de ônibus, insultar em restaurantes, afugentar com punhos cerrados e lâmpadas fluorescentes tudo aquilo e aqueles que de alguma maneira lhes revelam sua própria pobreza anímica e humana.

— Bando de burro, morto de fome... Vota com o estômago e fode o País.

O que seria dos “boy” se não fossem os “mano”, o que seria dos coronéis se não fossem os miseráveis. Infelizmente não é mentira que, para muitos, os pobres e a pobreza escancarada dão mais vida e “valor” à sua riqueza ostentada, mas nem sempre verdadeira.

De verdade, o que resta é a dúvida: de cá e de lá, quem é polido, idôneo, amável, inteligente e rico... de espírito?


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Vadia opção

por Wagner Hilário
Poeiras nos olhos,
pálpebras exaustas,
pupilas autômatas
entregues à multidão

Espera um raio criativo
uma livre associação...
Que outra alternativa?
Que vadia opção?

Preserva-se solitário
perdido da loucura
em conexão?
Ou na loucura se conecta
e se esquece do sol
que brilha em si
salvo e são?

Que outra alternativa?
Que vadia opção?

A cada dia
se convence mais
que o verso
não é só poesia, 
é sua salvação