domingo, 16 de abril de 2017

Naná e a Terra do Sempre

por Wagner Hilário


São quase oito anos de saudade numa só manhã, tão cheia de ressaca de trabalho do dia anterior.

A notícia da morte da cachorra do meu menino, Gabo, que a viu pela primeira vez quando só tinha cinco anos, fulminou-me mais do que quando soube da morte da minha própria cachorra, Chulipa, com quem havia convivido por mais de 14 anos, depois de tirá-la da rua, debilitada e com visíveis sequelas de uma cinomose. Eu tinha 11 anos quando a vi pela primeira vez e 25, quando ela partiu. Gabo já era nascido.

A cachorra do meu menino, Naná, se foi neste domingo de Páscoa: complicações de uma diabetes tardiamente descoberta. Seu fígado foi violentamente castigado e não houve insulina, nem veterinário, nem tempo, nem oração que a salvasse.

Sinto a dor de Gabo. Sinto a sua dificuldade, aos 12 anos, em aceitar uma despedida tão indesejada. A morte é a certeza mais secreta que existe; é uma tristeza que, ao delimitar o nosso tempo, dá sentido à vida. Veja que ironia!

Foi tão de repente que a vida de Naná cruzou a nossa. Estávamos, minha esposa e eu, em viagem. Meu menino, triste por não ter ido conosco, recebeu, de aniversário, de minha mãe, a alegre e indomável vira-lata, então, com dois anos.

Naná tinha o pelo castanho clarinho. Seu nome foi o próprio Gabo quem deu. Não foi por acaso. À época, o desenho favorito dele era Peter Pan. Naná chegou, em julho de 2009, para suprir, no coração dele, nossa momentânea ausência. Fez muito mais do que isso.

Que outra coisa a fazer, neste instante, nesta Páscoa, então, senão agradecer... Obrigado pela companhia, Naná. Vá em paz! Vemo-nos em breve, não mais no tempo dos homens, mas no tempo de Deus, que é tudo e sempre.