por Wagner Hilário
Diante de si, caminhos em profusão e encruzilhadas, um zilhão de alternativas e no gibão um cantil macerado com água, ingerida economicamente a cada gole bem espaçado. Na beira das vias há de haver um pé de sei lá o quê que lhe sirva de sustento, instante de satisfação, pra se esquecer dos lamentos.
— Pr'onde ‘cê vai moça? — pergunta o vento.
— Pensei que soubesse, mas quando pisei no cascalho, esqueci ao certo.
— Então me deixa soprá’ seu rosto, pra vê’ se devolvo pro ‘cê a memória.
— Pó’ soprá’.
— Vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv... Lembrou?
— Lembrei.
— Então pr'onde?
— Vou pr'onde o vento sopra minha memória.
— Então já não precisa í’. ‘Tô aqui... lhe ventando.
— Mas você nunca para, vento, anda todo tempo, ‘tá em todo canto. Preciso segui-lo.
— Se ‘tô em todo canto, pare num qualqué’, poupe seus pés e seu pranto e ouça meu canto que é tato... macio.
— Ma’ com’é que não pensei nisso antes.
— ‘Tava andando feito tonta, não parou pra pensar nem sentí’ que ninguém se perde na estrada sem antes se perdê’ de si.
Um comentário:
"...ninguém se perde na estrada sem antes se perdê’ de si".
Bravo!! :-)
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