sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Ela e o vento

por Wagner Hilário

Diante de si, caminhos em profusão e encruzilhadas, um zilhão de alternativas e no gibão um cantil macerado com água, ingerida economicamente a cada gole bem espaçado. Na beira das vias há de haver um pé de sei lá o quê que lhe sirva de sustento, instante de satisfação, pra se esquecer dos lamentos.

— Pr'onde ‘cê vai moça? — pergunta o vento.

— Pensei que soubesse, mas quando pisei no cascalho, esqueci ao certo.

— Então me deixa soprá’ seu rosto, pra vê’ se devolvo pro ‘cê a memória.

— Pó’ soprá’.

— Vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv... Lembrou?

— Lembrei.

— Então pr'onde?

— Vou pr'onde o vento sopra minha memória.

— Então já não precisa í’. ‘Tô aqui... lhe ventando.

— Mas você nunca para, vento, anda todo tempo, ‘tá em todo canto. Preciso segui-lo.

— Se ‘tô em todo canto, pare num qualqué’, poupe seus pés e seu pranto e ouça meu canto que é tato... macio.

— Ma’ com’é que não pensei nisso antes.

— ‘Tava andando feito tonta, não parou pra pensar nem sentí’ que ninguém se perde na estrada sem antes se perdê’ de si.

Um comentário:

Unknown disse...

"...ninguém se perde na estrada sem antes se perdê’ de si".
Bravo!! :-)