por Wagner Hilário
Pra ele, todas as noites tinham lua. Até quando havia nuvens, a lua fazia questão de se mostrar; ela pedia licença, e as nuvens, cinzas e sisudas, se desmanchavam e se abriam num riso frouxo, pra que o facho de luz pudesse avivar a noite.
No céu de seus olhares notívagos, a lua jamais minguava; estava sempre cheia, cheia de suas fantasias, que aos ouvidos alheios soavam besteiras. Mas lhe faziam tão bem!
Antônio não era um cara sensual; sua beleza dava pena. Inteligente, até que era, mas era raso. Estava longe de ser o filho preferido de seu pai. Ainda assim ele tinha grandes pretensões, embora ninguém notasse. Não que não dissesse, não o levavam a sério.
Incapaz de ver a noite no esplendor de sua escuridão despida de lua e incapaz ver suas limitações refletirem-se nos olhos dos outros, Antônio mirava miragens e miragens são desejos, quase necessidades, falseando a realidade.
Nunca teve uma paixão não correspondida, apesar de as mulheres que amava não saberem que o amavam. Elas sempre resistiam aos seus sentimentos, ele dizia, e por isso, só por isso, ele acabava sozinho. Só por isso, ele nunca esteve com alguém.
As pessoas o achavam engraçado, até o dia em que decidiu chegar à lua. A felicidade deve ser colocada onde possamos alcançá-la. Tomado por uma alegria alucinada, subiu ao terraço do edifício em que morava e descobriu que não podia. Só lhe restava beijar o chão.
O dia seguinte amanheceu ensolarado, radiante, mas muitos preferiam não ter acordado tão cedo.
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