segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Vanessa Ferrari

por Wagner Hilário

Vencedora na vida e temente à morte — “só vence na morte quem perde na vida”, frase do papai —, Creusa Aparecida Ferreiro, com apenas dezessete anos virou Vanessa, boicotou o Aparecida, embora jamais tenha aberto mão de aparecer, e fez uma cirurgia plástica no sobrenome... Virou Ferrari e turbinou seu design.

Deu duro, sem perder a pompa, sem perder os olhos do tesouro prometido, em mapa mal-julgado, velho e encardido, gasto mesmo, de tantas as vistas que lhe passaram sobre e tiraram seu viço. Que viessem as tempestades, pensava, “os rumos do meu barco foram pintados com a tinta das estrelas, e onda nenhuma me fará voltar atrás”.

Da proa, esquecia a miséria íntima de sua cabine, e mirava mentiras e mais mentiras para além do horizonte, onde jamais ancoraria. Quem mesmo era? Quem queria ser, ou suas doloridas mazelas? De dia, era a personificação do sucesso aos olhos do seu mundo: mamãe e papai iludiam-se e ai de quem os desiludisse. De noite, ela pagava a dívida com o sol.

Queria crer nos méritos que ninguém tem; que o amanhã seria só verdade. Mas como, se já nem lembrava onde encontrá-la? Então, curtia os dias de inverno cheios de sol brando, da varanda gourmet de seu duplex, vencedora na vida e temente à morte.

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