por Fernando Pessoa
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
o mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
a mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem – ou desgraça ou ânsia –,
com que a chama do esforço se remoça,
e outra vez conquistemos a distância –
do mar ou outra, mas que seja nossa!
Poema extraído do livro Mensagem, edição de 1999, da Companhia das Letras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário